1. Conceito e Princípios da Ciência Aberta

O que é?

A Ciência Aberta é a prática científica que permite que outros possam colaborar e contribuir, onde os dados da investigação, as notas laboratoriais e outros processos investigativos são livremente disponibilizados, sob condições que possibilitem o reuso, a redistribuição e a reprodução da investigação e dos dados e métodos subjacentes (FOSTER Open Science Definition). Em suma, a Ciência Aberta é o conhecimento transparente e acessível que é partilhado e desenvolvido através de redes de trabalho colaborativas (Vicente-Sáez & Martínez-Fuentes 2018).

A Ciência Aberta implica aumentar o rigor, a responsabilidade e a reprodutibilidade da investigação. Baseia-se em princípios de inclusão, justiça, equidade e partilha e, em última instância, procura mudar o modo como a investigação é realizada, quem está envolvido e como é valorizada. O objetivo é tornar a investigação mais aberta à participação, à revisão/refutação, à melhoria e ao seu (re)uso para benefício de todos.

Existem várias definições de “abertura” no que diz respeito à ciência; a Open Definition define-a assim: “Os dados e conteúdos abertos podem ser usados livremente, modificados e partilhados por qualquer pessoa para qualquer fim”. A Ciência Aberta engloba uma série de práticas, normalmente incluindo áreas como o acesso aberto às publicações, dados de investigação abertos, software e ferramentas de código aberto, fluxos de trabalho abertos, ciência cidadã, recursos educativos abertos e métodos alternativos para avaliar a investigação, incluindo a revisão pelos pares aberta (Pontika et al., 2015).Pontika et al. (2015)

Os objetivos e os pressupostos subjacentes ao impulso para implementar estas várias práticas foram analisados por Fecher & Friesike (2013), cuja revisão da literatura identificou cinco maiores preocupações ou “escolas de pensamento”. São elas:

  • Escola Democrática: Acreditando que há uma distribuição desigual do acesso ao conhecimento, esta área está preocupada em tornar o conhecimento académico (incluindo publicações e dados) disponível para todos.

  • Escola Pragmática: Seguindo o princípio que a produção do conhecimento é mais eficiente se for assente na colaboração e fortalecida através da crítica, esta área procura aproveitar os efeitos da rede estabelecendo a ligação entre investigadores e tornando os métodos investigativos transparentes.

  • Escola de Infraestruturas: Esta linha é motivada pela suposição de que a investigação eficiente requer plataformas facilmente acessíveis, ferramentas e serviços para disseminação e colaboração.

  • Escola Pública: Com base no reconhecimento de que o verdadeiro impacto social requer compromisso social na investigação e na comunicação dos resultados científicos facilmente compreensível, esta área pretende implicar o público na construção do conhecimento através da ciência cidadã, e tornar o conhecimento mais facilmente compreensível através de resumos numa linguagem acessível, blogs e outros meios de comunicação menos formais.

  • Escola de Avaliação: Motivado pelo reconhecimento de que as métricas tradicionais para medir o impacto científico se têm mostrado problemáticas (por se focarem demasiado nas publicações, muitas vezes apenas ao nível das revistas, por exemplo), esta vertente procura "métricas alternativas" que possam fazer uso das novas possibilidades de ferramentas digitais em rede para rastrear e medir o impacto da investigação através de atividades anteriormente invisíveis.

Fundamentação

A Ciência Aberta, como definida anteriormente, engloba um grande número de potenciais mudanças estruturais na prática científica, cuja cultura pode ser, muitas vezes, hierárquica e conservadora. Além disso, mesmo quando os investigadores simpatizam com os objetivos da Ciência Aberta, é possível que ainda não percebam a utilidade de os adotar, uma vez que os mecanismos de incentivo existentes ainda não refletem essa nova cultura de abertura e colaboração. Como consequência, convencer os investigadores da necessidade de mudar as suas práticas exigirá um bom entendimento não só dos benefícios éticos, sociais e académicos, mas também de que maneira, ao adotar as práticas de Ciência Aberta, isso realmente poderá contribuir para o sucesso da sua investigação. Esta seção descreverá alguns dos principais conceitos, princípios, atores e práticas da Ciência Aberta e como estes se encaixam num ecossistema de investigação mais amplo.

Objetivos de Aprendizagem

  1. Compreender os conceitos e os princípios sociais, económicos, legais e éticos que sustentam a Ciência Aberta.

  2. Familiarizar-se com a história da Ciência Aberta, bem como com a disparidade e diversidade de perspetivas oriundas de diferentes comunidades de investigação, disciplinas e culturas.

  3. Conhecer os desenvolvimentos em torno da Ciência Aberta e do impacto pessoal que aqueles podem ter sobre os investigadores, a investigação e, numa perspetiva mais alargada, na sociedade.

Componentes-chave

Conhecimentos e Competências

  • A Ciência Aberta é o movimento que ajuda a tornar os resultados da investigação académica mais acessíveis, incluindo código, dados e artigos científicos.

    • Abrange muitos aspetos diferentes, mas muitas vezes relacionados, que afetam todo o ciclo de vida da investigação, incluindo publicação aberta, dados abertos, software de código aberto, registos científicos abertos, revisão por pares aberta , disseminação aberta e materiais abertos (ver o glossário para definições).
  • História da Ciência Aberta e as motivações por detrás do movimento.

    • As origens da publicação académica remontam ao século XVII com as primeiras revistas académicas.

    • Crescente motivação para partilhar recursos entre as diferentes disciplinas , bem como o aumento da transparência para obter mais eficiência, rigor, responsabilidade, sustentabilidade para futuras gerações e reprodutibilidade.

    • Casos éticos pelos quais o aumento da transparência pode reduzir fraudes, manipulação de dados e apresentação seletiva de resultados.

  • O estado atual surgiu da pressão por parte das comunidades académicas e dos governos para que as investigações financiadas com fundos públicos fossem partilhadas mais abertamente, muitas vezes com o propósito de acelerar o crescimento económico e social e a inovação.

    • Os resultados da investigação financiada com fundos públicos devem estar publicamente acessíveis.

    • É necessário levar a cabo uma mudança cultural na investigação e entre os investigadores.

    • Adotar ferramentas da Web e tecnologias para facilitar a colaboração científica.

  • Diferenças e pontos comuns no âmbito das práticas, princípios e comunidades de Ciência Aberta. *

    • É geralmente aceite que a Ciência Aberta conduz a um maior impacto associado a uma partilha e reutilização mais amplos \por exemplo, a chamada "open access citation advantage").

    • A Ciência Aberta pode aumentar a confiança na ciência e na fiabilidade dos resultados científicos.

  • Ciência Aberta e sua relação com licenças e direitos de autor.

    • Normalmente, os resultados da investigação aberta são licenciados abertamente para maximizar a reutilização, permitindo que o autor mantenha a propriedade e receba crédito pelo seu trabalho.

Perguntas, obstáculos e equívocos comuns

Q: "Qual a diferença entre Ciência Aberta e 'ciência'?"

A: Ciência Aberta implica fazer ciência tradicional com mais transparência nas suas várias fases, por exemplo partilhando de forma aberta código e dados. Muitos investigadores já fazem isto atualmente, mas não lhe chamam Ciência Aberta.

Q: "A Ciência Aberta excluí as Ciências Socias e Humanas?

A: Não, o termo Ciência Aberta é inclusivo. Na verdade, o que acontece é que por vezes a Ciência Aberta é genericamente referida como "Investigação Aberta" ou "Investigação Académica Aberta" (de "Open Scholarship") para ser mais inclusiva a outras disciplinas, princípios e práticas. No entanto, Ciência Aberta é um termo comumente usado em vários níveis e, portanto, faz sentido adotá-lo para fins de comunicação, com a condição que inclui todas as disciplinas da investigação.

Q: "A Ciência Aberta conduz ao uso indevido ou incompreensão da investigação?"

A: Não, a aplicação dos princípios da Ciência Aberta é, de fato, uma proteção contra o uso indevido ou mal-entendido. A transparência gera confiança e permite que outras pessoas verifiquem e validem o processo de investigação.

Q: "A Ciência Aberta irá provocar uma sobrecarga de informação?"

A: É melhor ter muita informação e lidar com isso, do que ter muito pouca e viver com o risco de perder as partes importantes. E há tecnologias como RSS feeds, aprendizagem automática ou de máquina e inteligência artificial que facilitam a agregação de conteúdo.

Resultados de aprendizagem

  1. Ser capaz de explicar os princípios e conceitos académicos, económicos e sociais centrais que sustentam a Ciência Aberta, e por que razão isso é importante em termos de impactos mais alargados.

  2. Desenvolver uma compreensão das numerosas dimensões da Ciência Aberta e de algumas das ferramentas e práticas envolvidas.

  3. Estar familiarizado com o estado atual da Ciência Aberta e com a diversidade de perspetivas que isso engloba.

Leitura adicional

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